2 textos do PENSADOR.

PRECiPÍCiO
10/01/98

SERÁ QUE É VERDADE?
Que nessa cidade
Os loucos estão no hospício?
Que a necessidade
Caminha pro fim
E a cura do mal teve início?

Um novo ideal de amizade
De paz e igualdade
Que ouvi no comício
SERÁ QUE É VERDADE?
Se for mesmo assim
Não vou mais pular do edifício!

Será que a cidade
Vai fazer festança
E soltar os fogos de artifício?
Pra comemorar
A mudança que está
Pra chegar num momento propício?

Ou É NA VERDADE
Uma falsa esperança
Que veio aumentar nosso vício
De tudo aceitar
Sem sair do lugar
Na beira desse precipício?

GABRIEL CONTINO





TRISTES VERDADES
(Os menores do Brasil)
21/22 Dezembro de 1992
(...)
“Com futuro totalmente promissor
agradeço a Deus por minha situação
Estou perfeito mas no peito está uma dor:
O que é feito pela vida aos meus irmãos!
Penso sobre o futuro desse mundo e realmente
a primeira sensação é de desânimo.
essa merda, a verdade, está na cara.
Sozinho serei sempre o impotente Gabriel
que está assistindo a um programa de TV
como tantos outros documentários
que se repetem mas ninguém parece ver.
Que frustração que é viver nessa injustiça geral!
E eu, “o pensador”, o que farei?
Qual é o meu papel, qual o meu potencial?
O que virá? Como virei? Não sei.
Que força pode ter uma voz num microfone?
Ou mesmo na boca da multidão?
Acaba o programa e não o tema:
MISÉRIA, VIOLÊNCIA, DESNUTRIÇÃO.
No “sete” passa um filme de cinema:
“Na cama com Madonna”, vejo então.
Madonna chupa um casco de refrigerante
refrigero a minha mente, por instantes
brinco com a TV, troco de canal
e volto a colocar na Bandeirantes
revejo o fim do filme da cantora
num palco da França surge ela
cantando o valor de uma família:
“Keep people together forever and ever”
(“manter as pessoas juntas para sempre e sempre”)
Me lembro que nesta última música do filme
me arrepiei já quando o vimos no cinema
me lembro também do meu irmão Tiagão
que hoje dorme lá no “Nem”, sem problemas
Madonna continua com seu show
e diz: Sua família são os seus amigos”
e “sem sua família você não é nada!”
Me lembro dos menores perdidos.
Me lembro de um rap muito lindo
que, ouvindo, já me fez até chorar
diz que amigos vêm e vão, mas os irmãos
e a família sempre estarão lá.
Imagino agora como triste deve ser
viver sem o apoio de ninguém
e calculo então: se já seria o fim para mim
imagina pra quem nem amigos tem.
“Papai do céu é meu amigo” como diz o meu avô
mas para tantos, a própria vida é um inimigo
temo a morte porque tive e tenho a sorte
que eles nunca compartilharão comigo.
O rap que lembrei faz parte de um projeto:
“Human Education Againts Lies”.

(“Educação Humana contra as Mentiras”)
Eu quero saber como apagar essas tristes verdades
Que doem demais.”

GABRIEL CONTINO